sexta-feira, 3 de abril de 2009

UM PAÍS COMANDADO PELA VIOLÊNCIA



A criminalidade no Brasil bate recorde, apavora a sociedade e os governantes não conseguem conter essa onda de violência. Há uma sensação generalizada na sociedade de que o nosso país pode estar perdendo a chance de vencer a guerra contra o crime.
Quem sai de casa numa metrópole brasileira convive com a possibilidade concreta de ser alvo de algum ataque físico. Entre os habitantes das grandes cidades, todos sem exceção têm algum parente, amigo ou colega de trabalho que já esteve sob a ameaça de revólver na cabeça. Pela repetição, os casos de assalto a mão armada só chamam a atenção da opinião pública quando o assaltante mata a vítima. Num cenário agudo de violência como o que se vive no Brasil, as pessoas desenvolvem um sistema de proteção, uma carapaça que as faz parecer menos sensíveis. Quando se dá um assassinato numa cidade do interior, em alguns casos, o acontecimento traumatiza a sociedade local. Já nas grandes cidades, o crime de morte tornou-se ocorrência banal porque acontece às dúzias a cada semana.
O Brasil está ultrapassando todos os limites do tolerável nessa área. De acordo com os últimos dados, ocorrem 50 000 assassinatos por ano no país. O número frio adquire um significado sinistro quando se descobre que, nesse terreno, o Brasil supera sozinho a soma dos assassinatos ocorridos atualmente nos E.U.A, Canadá, Itália, Japão, Austrália, Portugal, Áustria e Alemanha. Troquem-se as nações ricas pelos paises da América Latina, onde a realidade social é semelhante a brasileira, e a comparação continua escandalosa. Nesse cenário, com 24 assassinados por 100 000 habitantes, a taxa nacional de homicídios equivale ao quádruplo do índice da Costa Rica e é nove vezes superior ao da Argentina. O Brasil só perde no ranking dos homicídios para a imbatível Colômbia (78 mortos por 100 000 habitantes), Honduras (64 por 100 000) e Jamaica (29 por 100 000).
Não importa o crime escolhido, o Brasil está sempre numa posição critica. Na industria mundial do seqüestro, o Brasil é o quarto país onde esse crime ocorre com mais freqüência.
Tão preocupante quanto o aumento do número de assaltos, seqüestros, roubos a bancos, latrocínios, estupros e outros crimes listados no Código Penal é que a ação do Estado vai surtindo efeito cada vez menor.
O crescimento da violência no Brasil é conseqüência direta e exclusiva da disparidade de renda entre a camada rica e a pobre da população, entrando aí não apenas o diferencial monetário, mas também as carências educacionais e sanitárias da parte mais numerosa dos brasileiros.
Quanto mais cresce um país, menores são as taxas de criminalidade. No Brasil, a taxa de crimes violentos não pára de aumentar desde 1990. Nesse período, a economia cresceu a uma taxa de 0,5% a 1% ao ano, em média. O desemprego brasileiro situa-se na casa dos 8%, taxa muito superior a média de 5% verificada no início da década de 80 ou os 4% do início da década seguinte, de acordo com os cálculos do IBGE.
No terreno da droga, é muito comum a cobrança de dívidas com uma bala na testa do inadimplente. A droga é uma grande vilã. Calcula-se que a cocaína ou o crack estejam por trás de 60% dos assassinatos.
O combate ao crime deve começar na própria polícia. Em Washington, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, um terço da polícia está envolvida em caso de corrupção. A diferença é que essa turma está sendo demitida. No Brasil, as provas exigidas para demitir um policial corrupto só podem ser obtidas por outro policial. O resultado é patético. Há 300 000 policiais atuando em nove dos maiores Estados brasileiros. Destes, 30 000 são acusados de algum crime_50% deles apontados como autores de delitos como: roubo a banco ou a cargas, extorsão, seqüestro, homicídio e tráfico de drogas.
Há algumas coisas básicas que se podem fazer para atacar a criminalidade, nenhuma delas é fácil. É preciso começar pela limpeza da polícia. De nada adianta ter policial na rua se ele vai extorquir o traficante em vez de prendê-lo. Além disso, a parte honesta da polícia necessita de tratamento mais descente. Deve ter melhor treinamento e salários mais altos. Salários ruins espantam os candidatos mais qualificados e produzem uma força desmotivada.
Polícia melhor não basta. Na periferia das grandes cidades brasileiras, o Estado não aparece. Escolas, organizações esportivas, centros comunitários que ofereçam apoio às famílias são fundamentais como barreiras à expansão da violência. Creches para ajudar a mãe e centros de treinamentos de mão-de-obra ou mesmo cursos de arte ou algum tipo de diversão para as crianças e jovens também têm papel decisivo. Em alguns lugares miseráveis, os jovens não vêem esperança alguma no horizonte. Se nada parece confiável, se nenhuma alternativa se apresenta, o jeito é pegar uma arma e fazer um assalto. O cenário social desolador forja criminosos também. Políticas que aumentem o emprego e reduzam as diferenças de renda responsáveis pela criação de uma gigantesca casta de excluídos obviamente teriam um impacto imediato na redução dos índices de criminalidade brasileiros. Nenhuma dessas providências funcionam a contento de forma isolada e nem podem ser alcançadas imediatamente e sem uma determinação muito grande.

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